A BALAIADA
Balaiada foi um movimento subversivo irrompido em uma pequena
Se a separação maranhense tivesse se consumado, causaria grande transtorno em nossa configuração territorial, afetando a integridade nacional.
Situação do Maranhão em 1838.
O Brasil atravessava o difícil período da Regência, em que forças desagregadoras ameaçavam a unidade nacional. Sobre a época, Viriato Corrêa escreveu:
"Das fases históricas do Brasil, foi a Regência a mais curiosa e a mais brasileira, por ter sido aquela em que se firmou definitivamente o cunho da nossa nacionalidade".
As divergências políticas maranhenses estavam exacerbadas. O grupo situacionista ou conservador era apelidado Cabano pelos adversários, que queriam confundi-lo com o que agira em Pernambuco e no Pará. Ficava na oposição o Partido Liberal que ganhou o apelativo de Bentevi, em decorrência do jornal editado por seus correligionários, propriedade de Estêvão Rafael de Carvalho.
Uma série de acontecimentos graves vinha intranqüilizando a vida maranhense. O Presidente da Província, Vicente Camargo, mostrou-se incapaz de conter o confronto político. Os crimes aumentavam os ódios facciosos. No interior, encerrada a luta pela independência, centenas de antigos combatentes não conseguiram ocupação permanente.
Vila da Manga, estopim.
Na pequena vila da Manga, situada na margem esquerda do rio Iguará, distante 12 léguas da capital, em dezembro de 1838 ocorreu uma desordem sem importância em si, mas que foi explorada pelo partido dos Bentevis, transformando-se no verdadeiro estopim da Balaiada.
Raimundo Gomes Vieira Jutaí, vaqueiro nascido no Piauí, a serviço do Padre Inácio Mendes de Morais e Silva, ao passar pela
Os rebeldes animaram-se e conseguiram a adesão de outros fugidos da lei, aumentando o grupo dia a dia. "A Balaiada logo tomou o caráter de vingança de pretos e mulatos, aliados a índios e cafuzos, desprovidos de terras e direitos, contra os portugueses e seus descendentes não mesclados, que integravam a classe dos poderosos".
A força insurreta contava com um efetivo razoável, dada a adesão de outros grupos liderados também por chefes sem escrúpulos, como Lívio Lopes Castelo Branco, Pedro Moura, Milhomens, Mulungueta, Tempestade, Gavião, Pedregulho e Macambira. O movimento ampliava-se.
Raimundo Gomes tornou-se um perigo para a ordem pública, já que era chefe de uma revolta sem ideal, sem bandeira e sem outros objetivos senão o saque e a obtenção de vantagens pessoais. "O colorido político era aí mero pretexto para demonstrações do mais desenfreado banditismo sertanejo", escreveu Hélio Vianna.
Pouco se podia fazer para contê-los. A reação começou com a iniciativa do prefeito de Itapicuru-Mirim que contava com 40 guardas nacionais mal armados. Mas não chegou a haver um encontro. O Exército tinha efetivos muito reduzidos na área e não fora solicitado a intervir. E Manuel Felizardo de Sousa e Mello, empossado Presidente da Província em 3 de março de 1839, não conseguiu perceber a gravidade da desordem.
Marcha da morte.
Havia necessidade de providências urgentes, principalmente pelas notícias chegadas sobre o procedimento dos sediciosos nas vilas e fazendas encontradas pelo caminho. Eles saqueavam e destruíam tudo, em ações isoladas e sem coordenação. Ficou famosa a investida do Balaio e seu grupo sobre a fazenda Angicos, em março de 1839, por causa da crueldade com que os balaios trataram os vencidos.
Os revoltosos resolveram marchar sobre a cidade de Caxias. Sem contar com a ajuda da capital, também ameaçada, João Paulo Dias Carneiro, valendo-se de sua autoridade na comarca de Caxias, convocou o povo para grande reunião pública a fim de tomarem deliberações exigidas pela situação. Teve um papel preponderante no
Último cartucho.
Por fim a situação tornou-se insustentável. Os defensores estavam exaustos. Então, o Capitão Sabino preparou o canhão e acenou para os rebeldes, fazendo-lhes uma alocução,
Arrancada sobre a capital. Morte do Balaio.
Conquistada a cidade de Caxias (1º de julho de 1839), os balaios, empolgados com a liderança alcançada no âmbito do Partido Bentevi, decidiram dirigir-se a outros objetivos.
Raimundo Gomes resolveu enviar uma comissão a São Luís com o objetivo de solicitar a deposição das armas ao Presidente Vicente Camargo, que encaminhou a petição ao Rio de Janeiro.
Os chefes rebeldes não se entendiam bem. As ambições pessoais sobrepunham-se ao interesse comum. Depois de dominarem determinada região e gastarem seus recursos, os balaios deixavam-na em busca de outra mais promissora.